8M
A luta das mulheres trabalhadoras
História da data¹
A origem de uma data que levante a pauta dos direitos das mulheres é intimamente vinculada à classe trabalhadora e não nasceu dos espaços acadêmicos frequentados por elites, como se poderia imaginar. Diversos eventos, em períodos próximos, ocorridos entre o fim do século XIX e início do XX, foram determinantes para que uma data internacional de lutas fosse estabelecida.
Os movimentos que culminariam no 8 de março (8M) (oficialmente reconhecido pela ONU só em 1975) foram de passeatas por direitos trabalhistas (em Nova Iorque, 1909) até a triste confirmação das condições insalubres às quais as trabalhadoras eram submetidas (em 1911, também em Nova Iorque), com a morte de 125 delas em um incêndio na Triangle Shirtwaist Company. Mas foi só em 1917 em que o 8M se tornaria uma referência pelas operárias russas, que protestavam contra a fome e a Primeira Guerra Mundial.
Feminismo: recortes de raça e classe² ³
Paralelamente à luta das operárias por condições mínimas de trabalho, a luta pela equidade de direitos, além do voto (“sufrágio”) viria a ser o que hoje conhecemos pela primeira onda do movimento feminista que, embora associadas às elites brancas, era majoritariamente compostas por operárias, inclusive com lideranças negras.
Já a segunda onda do movimento feminista, didaticamente associada à década de 60 e 70, teve um perfil mais amplo, em especial pelo contexto de entre guerras mundiais e de ditaduras em diversos países, com destaque para a América Latina. As pautas englobavam o direito ao próprio corpo, lutas democráticas e a anistia aos presos políticos.
No Brasil, a partir da terceira onda feminista na década de 90, o movimento de luta das mulheres passa a se debruçar sobre sua própria composição e representação, observando recortes de classe social e raça, que impossibilitam um modelo universal de mulher (tradicionalmente associado a elites brancas). Os debates de gênero avançam sobre o modelo binário tido como suficiente até então, orientação sexual, raça, classe social e outras nuances da composição diversa do movimento feminista.
Atualmente, diversas vertentes do feminismo fazem proposições distintas para interpretar e lutar por seus direitos. A nós, parece evidente que a classe trabalhadora só pode defender um feminismo negro interseccional, ou seja, que reconheça e combata as opressões que determinam o “tornar-se mulher” das trabalhadoras, todas elas, negras, transexuais, travestis, indígenas, lésbicas, bissexuais, periféricas, mães etc.
Igual trabalho, igual salário⁴ ⁵ ⁶
Ainda que a formação política seja importante, os fatos são gritantes para ilustrar o debate sobre a atualidade da luta feminista: da escalada da violência física contra a mulher durante o ápice da crise sanitária da Pandemia por Covid, até os 74 dias de trabalho não remunerado que, em média, uma mulher “oferece” ao seu empregador – isso sem falar do trabalho doméstico, é claro, tradicionalmente gratuito -, a luta que se iniciou no final do século XIX ainda é – infelizmente – urgente.
Mais do que solidariedade, é preciso nos apropriarmos da história das lutas de mulheres que vieram antes de nós, nos enxergarmos como sujeitos políticos e reivindicar equidade a partir de políticas públicas que respeitem o direito à autonomia sobre nosso próprio corpo e combatam de forma eficaz o machismo e a misoginia.
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.” (Rosa Luxemburgo)
1) 8 de março: entenda a origem do Dia Internacional da Mulher. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/03/8-de-marco-entenda-a-origem-do-dia-internacional-da-mulher.shtml#:~:text=O%208%20de%20mar%C3%A7o%20s%C3%B3,que%20culminaria%20regime%20socialista%20sovi%C3%A9tico, acesso em 07/03/2023.
2) Ondas do Feminismo. Disponível em https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/ondas-do-feminismo/, acesso em 07/03/2023.
3) As diversas ondas do feminismo acadêmico. Disponível em https://www.geledes.org.br/diversas-ondas-feminismo-academico/, acesso em 07/03/2023.
4) Por que Brasil tem caído em ranking global de desigualdade de gênero. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nljwjq0nno, acesso em 07/03/2023.
5) Mulheres ganham em média 20,5% menos que homens no Brasil. Disponível em https://g1.globo.com/dia-das-mulheres/noticia/2022/03/08/mulheres-ganham-em-media-205percent-menos-que-homens-no-brasil.ghtml, acesso em 07/03/2023.
6) Vidas femininas importam: a luta das mulheres na pandemia. Disponível em https://www.nexojornal.com.br/colunistas/tribuna/2021/Vidas-femininas-importam-a-luta-das-mulheres-na-pandemia, acesso em 07/03/2021.
Semana da Mulher no SINTUFSCar
Isabelly Carvalho (PT) é vereadora da Câmara Municipal de Limeira/SP e Presidente da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos Humanos, dos Direitos do Consumidor, dos Direitos da Criança e do Adolescente e dos Direitos do Idoso do município.Ivanilda Reis (PSOL) é servidora TAE aposentada da UFRRJ, membra do coletivo Resistência do PSOL, militante sindical e militante dos movimentos sociais de mulheres e de negros e negras.