No último período, temos assistido a um aumento da violência e repressão policial, em especial nos setores mais explorados. Aí estão os trabalhadores e jovens de pele escura. O racismo é mais forte e presente justamente nos órgãos de repressão do Estado e na burocracia estatal e privada. É por isso que se repete, cada vez mais, acompanhando o aumento da luta de classes, o modus operandi “atira primeiro depois pergunta”. Para além do combate cotidiano ao racismo e contra a repressão, é necessário compreender profundamente a questão do racismo e a quem interessa a sobrevivência desta ideologia. Compreender o contexto da Abolição da Escravatura e seus reflexos até hoje é essencial para não sermos levados pela fraseologia das chamadas ações afirmativas e das políticas de cotas raciais. A Abolição da Escravatura foi consequência da situação de desenvolvimento capitalista e uma conquista precedida por décadas de revoltas e rebeliões.
No meio do século XIX, já não havia mais como manter a escravidão no Brasil. As lutas contra a escravidão negra tomavam conta do país. De longe vinha o Quilombo de Palmares, sobre o qual não é preciso se estender. As homenagens que até hoje recebe Zumbi são o testemunho da luta heroica e dolorosa dos negros, hoje parte integrante da classe trabalhadora brasileira, para se libertar de toda opressão e exploração. Inúmeras revoltas populares se somavam às rebeliões de escravos, aos assaltos às fazendas e assassinato de fazendeiros.
A data de 13 de maio deve ser lembrada deste ponto de vista como uma vitória na luta por igualdade, portanto da luta dos explorados e oprimidos no Brasil. De um lado a história oficial tenta apagar a conexão entre a luta de classes e a Abolição da Escravatura e de outro os defensores das políticas compensatórias elaboradas e impulsionadas pelo imperialismo através da Fundação Ford e governos de direita e ditos de “esquerda”. A verdade histórica é que ela foi uma conquista de um verdadeiro movimento popular nacional em todos cantos do Brasil.
O capitalismo no período de desenvolvimento das forças produtivas criou uma das mais reacionárias ideologias: o racismo.
Em nome da tese pseudocientífica da existência de “raças humanas”, as maiores atrocidades foram cometidas contra os povos. Apesar dos enormes avanços da ciência que comprovam de forma cabal que não existem raças humanas, essas teorias são permanentemente difundidas de tal maneira que ainda é necessário um grande esforço para combater o racismo.
De onde veio o racismo?
No século XX, o racismo científico foi elevado à categoria de sistema. Foi utilizado pelo nazismo contra os judeus, mas também contra os ciganos, os negros e os árabes. Estudos da origem do homem, de DNA, procuravam mostrar que os negros eram inferiores, que os árabes eram inferiores. Mas, a derrota do nazismo, ao contrário de terminar com estes “estudos”, os fez aumentar. Afinal, o racismo é fruto do capitalismo e não apenas de sua face mais repulsiva.
No Brasil, a maioria da população é mestiça de negros e brancos, majoritariamente e, minoritariamente (mas com uma forte presença) de índios. Os estudos genéticos feitos sobre a ascendência da população mostram que mesmo nos “negros” existem ancestrais “brancos” e “índios” e nos “loiros” existem ancestrais “negros” e “índios”.
No Brasil, a maioria dos pobres é negra ou mulata, mas só poderia ser assim a população brasileira que é constituída majoritariamente da mistura de escravos e europeus e como os escravos, ou seja, é a herança da escravidão na constituição da nação brasileira.
O racismo é fruto do enorme abismo econômico e social entre as classes sociais e suas verdadeiras raízes só podem ser encontradas nos tortuosos caminhos em busca do lucro realizado pelo capital.
Socialismo ou barbárie?
Esta é a encruzilhada da humanidade. As políticas afirmativas, as divisões raciais, são uma expressão desta decomposição social que o capitalismo oferece como única saída. Numa época em que a burguesia destroça os fundamentos de sua própria construção, a república democrática, e cada vez mais mergulha o mundo no totalitarismo abjeto pleno de guerras e miséria social.
Apesar da importante reflexão na luta contra o racismo, as cotas raciais são insuficientes para combater o racismo e o acesso as universidades públicas, e justamente por isso devem estar inexoravelmente ligadas à luta por vagas para todos, políticas de auxílio para manutenção dos filhos da classe trabalhadora no ensino superior, moradia estudantil, alimentação a preços populares, passe livre para os estudantes, etc.
A necessidade de políticas públicas para combater o racismo cotidiano, mas principalmente combater o extermínio da juventude negra e pobre nas periferias no Brasil. Liberdade para todos os presos sem crime violento, trabalho igual, salário igual, são algumas lutas contra o racismo que devem estar na pauta de todos sindicatos e movimentos sociais.
Não temos muito a comemorar neste 13 de maio, ainda mais com a prevalência de neofascista, governadores e altas autoridades de todos níveis de governo que são a favor do extermínio, como política de segurança. Porém não podemos apagar as imensas lutas de nossos antepassados, ao contrário temos que honrá-las, portanto desmistificar o conto da carochinha da princesa boazinha e as versões história que apagam as heroicas lutas que culminaram na Abolição.
Créditos EOL