Esse segundo mandato de Donald Trump não pode ser comparado a nada que nós vimos até agora. Ele foi eleito pelo voto popular, tem maioria na Câmara, no Senado e na Justiça dos Estados Unidos. Trump, ainda que possa parecer um louco, na verdade tem um Projeto político por trás e pretende implementá-lo seja pela política, pela coerção ou até mesmo pelo uso da força (militar). E é importante que entendamos esse projeto para podermos ter a dimensão dos desafios que temos pela frente.
Projeto 2025: a estratégia neocolonialista republicana por trás de Trump
Este projeto elaborado pela Heritage Foundation, thinktank ultraconservadora estadunidense, tem como subtítulo – “Mandato para a liderança: a promessa conservadora”. A burguesia imperialista dos EUA sonha com a volta de seu passado hegemônico, de “senhores do mundo”, conquistado graças a duas guerras mundiais. Hegemonia que vem perdendo espaço gradualmente desde os anos de 1970 (com a derrota na guerra do Vietnã), que se intensificou após a crise econômica de 2008, alavancando outros agentes econômicos e políticos no cenário mundial, como a China e a Rússia, sérios competidores pela hegemonia global.
O Projeto 2025 é um compêndio de 922 páginas que explica em mínimos detalhes como o Partido Republicano pretende “dominar o mundo”, começando com o 2º mandato de Donald Trump, com base nas ideias econômicas, políticas e ideológicas da extrema-direita. Por óbvio, como todo projeto imperial, projeta um futuro de “mil anos”
Os mais de 200 decretos e 80 revogações de leis do governo Biden, assinados por Trump no primeiro dia de mandato são uma demonstração de como o Projeto 2025 é a base estrutural desse novo governo, e uma ameaça para os estadunidenses e o mundo.
É sintomático que a composição do Governo Trump conte com 11 bilionários. Esses bilionários, somando-se suas fortunas, chegam em torno de 452 bilhões de dólares ou 2,7 trilhões de reais. Mas por que esses milionários estão compondo o Governo? Justamente para poder fazer acontecer o projeto 2025 que imporá uma mudança substancial na visão política dos americanos. O Slogan “American First” traduz fielmente a visão que eles têm sobre o que defendem para os EUA.
Os primeiros decretos e as revogações de leis progressistas do governo Biden mostram a estratégia por trás do homem, aparentemente fanfarão, mas que tem um propósito muito bem descrito no Projeto 2025, fielmente adotado pelo Partido Republicano:
1) Na política externa, o confronto direto com opositores, custe o que custar. As ameaças ao Canadá, Panamá e Groenlândia são uma pura demonstração da política neocolonialista de Trump, para se apossar de riquezas e territórios, que possam alavancar a economia americana e o lugar soberano dos EUA no mundo, mesmo que isso custe a existência da vida no planeta, mais guerras e miséria para as regiões mais pobres: “Não precisamos deles (a América Latina), eles que precisam de nós”.
2) Na política interna, Trump pretende uma total desregulamentação do Estado americano, com o enfraquecimento do regime democrático, diminuição dos serviços públicos, e fim dos direitos sociais e trabalhistas da população americana e de seus setores mais oprimidos. Servidores públicos que tenham expressado opiniões contrárias ao Partido Republicano e Donald Trump estão sendo demitidos e substituídos por apoiadores Trumpistas.
Meio ambiente: liberar as empresas poluidoras, fechar agências reguladoras e revogar as leis e os projetos de combate a crise climática
O Projeto 2025 não poderia se importar menos com as ameaças climáticas. O objetivo é um só: destruir os avanços conquistados. O slogan de campanha de Trump “Perfure, baby, Perfure”, se referindo à extração de petróleo e gás nos EUA, já se tornou realidade com os primeiros decretos assinados por ele: retirou os EUA do Acordo de Paris; ampliou os subsídios para a indústria de produtos poluentes; cancelou a proibição de exploração de petróleo e gás em áreas protegidas, como no Alaska; cancelou os subsídios federais para fontes de energia renovável; deu permissão para exploração de minerais em terras indígenas e muitos outros ataques.
Imigração: o “estrangeiro” sempre foi o inimigo interno
Trump não escondeu de ninguém sua intenção de perseguir os imigrantes indocumentados nos EUA com deportação em massa. Ganhou as eleições com o apoio da maioria dos eleitores a essa política, inclusive dos latinos que têm cidadania americana!
Enfim, faltam muitas coisas ainda para serem abordadas. Podemos dizer que a última delas é o que Trump propõe para a Palestina, para a faixa de Gaza. Isso é uma demonstração da ofensiva desmedida do governo e seu projeto de aniquilamento do povo palestino. Nem mesmo entre eles (potências ocidentais), existe acordo com tamanha atrocidade.
É certo que tudo isso não poderá ter êxito. Não se concebe que os movimentos sociais e políticos, do mundo todo, assistam pacificamente a todas essas barbaridades sem que se rebelem. A Argentina já deu o sinal, na semana passada, com uma manifestação gigantesca, frente as medidas de Milei que, podemos dizer, é a extensão da política da Extrema Direita representada por Trump e pelos seus correlegionários tal como Bolsonaro, aqui no Brasil.